Publicado: 26.04.2023
Este Perfil (texto e fotografias) foi realizado pelas estudantes Francisca Camilo e Laura Ferreira, no âmbito da unidade curricular de Laboratório de Jornalismo II, do 1.º ano do curso de Licenciatura em Jornalismo.
A formação musical de base nas Caldas da Rainha, de onde Rafaela Faria é natural, serviu como uma espécie de partitura para descobrir quais eram os seus interesses profissionais, mas foram os conhecimentos adquiridos na ESCS que lhe abriram as portas da RTP, onde hoje trabalha como anotadora.
Quando acabou a licenciatura em Audiovisual e Multimédia (AM), na ESCS, em 2016, Rafaela Faria deparou-se com algumas dificuldades em identificar o que realmente queria fazer na vida profissional. Estagiou como assistente de produção na série Sul, dirigida por Ivo M. Ferreira, e na área da realização e produção de televisão na RTP, mas sentia que não eram estas funções em que teria oportunidade de dar o melhor de si. A luz acendeu-se quando um produtor da RTP, que a tinha ouvido comentar sobre a sua formação musical em flauta transversal, lhe sugeriu que acompanhasse uma anotadora da estação pública, durante seis meses.
Na altura, Rafaela não sabia muito bem quais eram exatamente as funções de uma anotadora, mas aceitou a sugestão. “Comecei logo a andar atrás dela. Tinha um concerto no São Luiz e eu acompanhei-a. Fiquei imediatamente rendida”, conta. Com este estágio, pôde verdadeiramente perceber que ser anotadora é a profissão do detalhe. A partir desse instante, foi fácil perceber que “é uma função que precisa muito de pessoas e em que as bases musicais são importantes”.
A jovem apercebeu-se de que a profissão juntava tudo aquilo de que gostava. Com um sorriso no rosto, descreve as qualidades concentradas na atividade a que hoje entrega os seus dias: “Ser uma pessoa organizada, as artes, a parte musical e a dança”. De espírito livre e que gosta de apreciar muito bem o tempo de lazer, como se descreve, mas focada nas responsabilidades profissionais, Rafaela também valoriza muito a ideia de poder estar sempre a aprender. “Uma das razões que me faz gostar muito do meu trabalho é estar constantemente a desafiar-me a mim própria. É que, quando estou a trabalhar, sinto-me superconfiante, porque tenho uma equipa comigo e isso dá-me aquela confiança que, às vezes, no meu dia a dia, não tenho”, revela.
Profissão a quem cabe o detalhe de cronometrar cada segundo em que tudo se desenrola no programa, para que o realizador consiga prever o próximo passo a dar, Rafaela deixa bem claro que como anotadora utiliza ao máximo as suas qualidades de comunicadora, com um forte sentido artístico: “Um produtor vê dinheiro, meios, marcação de coisas; eu não. Neste momento, olho para um programa de televisão e vejo a coreografia, ouço a música e interpreto como é que isso pode ser transmitido lá para casa”, afirma.
O dia a dia de uma anotadora
Rafaela Faria trabalha no departamento de produção e participa na gravação de todo o tipo de programas. A anotadora tira “timings certinhos”, diz constantemente tudo o que vai acontecer em tempo real e transmite as informações aos realizadores. A escsiana recorda uma frase que um realizador da RTP lhe disse e que descreve muito bem a sua função: “Uma anotadora em ficção sabe tudo o que aconteceu. Uma anotadora em televisão sabe tudo o que vai acontecer.”
A carga horária de Rafaela oscila consoante as necessidades da RTP. “Nunca tenho o mesmo horário. Não tenho um trabalho das nove às cinco e não faço os mesmos programas todos os dias”, esclarece. Programas diferentes exigem competências diferentes. Enquanto uns são menos complexos, outros precisam de uma maior dedicação, atenção e disponibilidade, visto que desempenha diversas funções ao mesmo tempo. “Tenho sempre vídeos para arrancar, contagens decrescentes para dar a vários setores e até solos de guitarra para cronometrar”, especifica.
A opção por AM
A fotografia e o vídeo sempre foram duas paixões. Quando era mais nova, Rafaela filmava e fotografava festas e jantares para partilhar com a família. Um dia, viu o filme Morning Glory, sobre uma produtora de informação televisiva e a sua vida, sempre muito organizada e em cima de tudo. Essa história permitiu-lhe agrupar tudo aquilo de que gostava e chegar a uma conclusão: queria trabalhar em televisão. “Acho que o bichinho veio por aí. Basicamente, aquela história deixou-me a pensar: ‘Ok. Vou tentar’.”
Ciente de que tinha de escolher um curso que lhe oferecesse mais opções no futuro, mas que fosse composto por unidades curriculares que lhe despertassem interesse, Rafaela acabou por encontrar esses atributos na ESCS. “Audiovisual e Multimédia foi a minha primeira e única opção. Se não entrasse na ESCS, não ia entrar em mais lado nenhum.” Hoje, a escsciana destaca a componente prática, que lhe disponibilizou muitos conhecimentos no exercício profissional: “O facto de se tratar de uma escola que atribui uma particular importância ao lado prático da área e não apenas à teoria oferece aos alunos todas as ferramentas necessárias para fazerem boa figura. Confesso que sempre fui um bocadinho autodidata, mas as bases foram-me dadas na ESCS.”
Rafaela tem consciência da abrangência do curso em que se licenciou: “Audiovisual e Multimédia é muito extenso, logo a começar pelo nome. Podemos fazer tudo o que quisermos.” A anotadora da RTP considera “o plano curricular do curso acessível e os professores muito prestáveis”, justificando que “o facto de a ESCS ser pequena e ter apenas quatro cursos permite que pessoas de diferentes licenciaturas interajam umas com as outras. A parte social é crucial”.
Ferramentas para o futuro
Sempre interessada pelo mundo que a rodeia, na ESCS, a jovem inscreveu-se no E2 e no nAV, quando frequentava o 2.º ano do curso. Rafaela confessa ter gostado mais do E2. “Estava mais próximo daquilo que queria fazer”, justifica. Desempenhou funções como editora e operadora de câmara e foi também produtora da rubrica E2 Pro. Através destas atividades, aprendeu a trabalhar com timings e conheceu a “urgência televisiva”, que também existe na RTP, onde hoje trabalha. “Fazer parte dos núcleos escsianos deu-me alguma estaleca para saber reagir e resolver problemas em contexto profissional”, acredita.
No último ano de licenciatura, 2016, concorreu aos Prémios Tripla, na ESCS, com uma curta-metragem. Nesse ano, o tema do concurso era a Solidariedade. Rafaela escolheu a associação “A Avó Veio Trabalhar”, fundada por Susana António e Ângelo Campota. O projeto tem como objetivo intervir no sedentarismo dos idosos na nossa sociedade, cultivar a sua criatividade e dinamizar as suas vidas. O trabalho de Rafaela e do seu grupo foi distinguido com uma menção honrosa.
Memórias que permanecem
Das várias experiências que viveu na passagem pela ESCS, a jovem dá ênfase a um desafio em especial. “Foi no meu último ano da licenciatura. Tínhamos de criar uma curta-metragem de raiz; escrever o guião, produzir, gravar, editar e entregar”, recorda. Rafaela e o seu grupo de trabalho decidiram ir gravar a curta para Alpiarça, no distrito de Santarém: “Basicamente, a nossa história era sobre o fim do mundo. O mundo acabava e sobravam três rapazes, com personalidades muito estranhas e que depois encontravam uma rapariga. Eles eram muito apáticos, não queriam fazer nada, pensavam só ‘o mundo acabou, vamos só ficar aqui a aproveitar’. Basicamente, só sobreviviam, mas a rapariga veio agitar as águas e dizer ‘mas porquê? Por que é que tem de ser assim? Por que é que não lutamos e não procuramos mais?’. Era uma metáfora para os dias de hoje, quando as pessoas se veem num beco sem saída e se deixam ficar fora. Limitam-se a existir. Às vezes, é preciso alguém chegar com um megafone e dizer ‘Não! A vida é mais do que isto’. A verdade é que passámos um fim de semana inteiro a trabalhar com horários supermalucos: gravávamos das seis da manhã até à noite. O processo de casting, a viagem, gravar até altas horas, tudo para mim foram as melhores memórias”, recorda.
Na ESCS, Rafaela Faria estabeleceu relações para a vida com colegas das diferentes áreas. Foi onde conheceu os seus melhores amigos de hoje em dia, amigos que também trabalham na área. “Tenho muito orgulho neles, o Gaspar e a Inês, porque tanto um como o outro têm uma profissão em que usam o curso em que estiveram.” Além do espírito de amizade e de convívio que encontrou na Escola, a jovem defende que a instituição de Ensino Superior onde se formou é uma porta de entrada para o mercado profissional na área da Comunicação: “Estudando na ESCS, facilmente vai conseguir vingar”, sublinha.
Por fim, desafiámos Rafaela Faria a responder a uma espécie de Questionário de Proust:
Um objeto essencial para o teu dia a dia.
Cronómetro.
Uma cidade ou país.
Amesterdão.
Uma música ou banda.
A banda sonora, tema principal, do filme Inception.
Um livro ou escritor.
Morning Glory, de Lavyrle Spencer.
Um filme ou realizador.
Morning Glory, de Lowell Sherman.
Uma série.
Como Defender um Assassino.
Uma referência profissional.
A pessoa com quem aprendi a fazer o meu trabalho.
Quando for grande quero ser.
Anotadora. Talvez um dia Realizadora.
No vídeo abaixo, Rafaela Faria fala sobre as mais-valias de ter estudado na ESCS e como a formação académica contribuiu para o seu percurso:
Texto e fotografias de Francisca Camilo e Laura Ferreira, estudantes do 1.º ano da Licenciatura em Jornalismo (no âmbito da unidade curricular de Laboratório de Jornalismo II).