Publicado: 15.12.2021
A ESCS, com o apoio da Pós-Graduação em Storytelling, organizou uma palestra em torno de Glória, a primeira série original portuguesa da Netflix.
No passado dia 7 de dezembro, o Auditório Vítor Macieira acolheu a palestra “Glória – Nova Ficção e Memória”. O evento, promovido pela ESCS, com o apoio da coordenação da Pós-Graduação em Storytelling, visou esclarecer o processo produção de Glória e refletir sobre o universo histórico que serve de pano de fundo à primeira série original portuguesa a ser exibida na plataforma de streaming Netflix. A conversa, moderada pela realizadora Joana Pontes – que lecionou, durante vários anos, na Escola –, decorreu perante uma vasta plateia de estudantes, profissionais e curiosos.
Uma ficção com História
“Nós somos feitos de história”. Foi com esta citação de Jean-Claude Carrière que Joana Pontes deu o mote para uma ronda de intervenções, que juntou, em palco, não só a SPi e a RTP, coprodutores de Glória, mas também equipa técnica e atores.
Pedro Lopes, autor e guionista da série, adiantou que “uma história portuguesa com um tema internacional” foi a premissa para o argumento de Glória. “Fazer uma reflexão sobre o nosso passado recente permitiu-nos fazer uma história ficcionada”, explicou. À pergunta qual é a liberdade ficcional numa série de época?, o também Diretor Geral de Conteúdos da SP Televisão e docente na ESCS defendeu que “em último caso, a ficção está em primeiro lugar, porque, acima de tudo, queremos contar uma boa história”.
A resposta foi o pretexto para a intervenção de Maria Inácia Rezola e Nuno Estêvão Ferreira, a dupla de consultores historiográficos de Glória. “Coube-nos garantir que as cenas eram verosímeis”, esclareceu a historiadora e docente na ESCS. “O guião não era nosso. Demos ‘achegas’”, complementou o colega. Para Pedro Lopes, a investigação “muito séria” dos consultores assegurou que a ficção não tivesse desvirtuado a realidade histórica.
Por sua vez, Tiago Guedes, realizador de Glória, explicou que a equipa técnica o ajudou a “recriar o universo” em que decorre a ação, dando-lhe uma “textura e roupagem glamorosa”. O facto de se tratar de uma série para a Netflix implicou “corresponder a um padrão de conceção estética das outras séries da plataforma de streaming”, assumiu.
Um marco na ficção nacional
João Pedro Lopes, CEO da SP Televisão, relevou, com convicção, que “todos acreditámos neste projeto”. Pouco mais de um mês decorrido após a estreia de Glória, João Pedro Lopes afirmou que está “muito satisfeito com tudo o que conseguimos” e não esconde o entusiasmo em relação a uma segunda temporada (informação que ainda aguarda confirmação por parte da Netflix). “Estou confiante, mas independentemente [do que acontecer], isto foi um marco”, rematou.
O Diretor de Produção da série, Sérgio Baptista, contou que, devido à Covid-19, “tivemos de adaptar a produção de uma atividade coletiva à nova realidade [pandémica]”. João Pedro Lopes revelou, ainda, que a série foi gravada entre setembro de 2020 e janeiro de 2021, coincidindo com o ‘pico’ da pandemia, o que representou um “desafio acrescido”.
Ficção de confiança
José Fragoso admitiu que “Portugal é um país difícil para a ficção”, pois a indústria das telenovelas tem um grande peso na produção audiovisual. Mas, hoje, “existe um potencial que não existia em 2008”, quando a RTP começou a colaborar com a SP Televisão, esclareceu o Diretor de Programas da televisão pública. “Temos excelentes condições para fazer caminho na ficção a nível global [e] as plataformas de streaming passam a olhar para Portugal com confiança”, acrescentou. “Glória é um excelente cartão de visita para o mundo”, reforçou João Pedro Lopes.
O impacto na carreira dos atores
O elenco de Glória fez-se representar por Maria João Pinho e Miguel Nunes. A moderadora questionou a dupla sobre o impacto da visibilidade de Glória na carreira dos atores. “Não tinha a noção da projeção do nosso trabalho quando estávamos a filmar”, respondeu a atriz que interpreta Sofia na série. Já Miguel Nunes, o protagonista que dá vida a João Vidal, é convicto ao afirmar que pretende “dar continuidade a este tipo de projetos”.
Fotografias: Gabcom (Serviço de Comunicação da ESCS)