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Publicado: 10.05.2023

Editado: 15.05.2023

A ESCS foi a anfitriã do VI congresso “Literacia, Media e Cidadania”, organizado pelo Grupo Informal sobre Literacia Mediática (GILM).

“Transição Digital e Políticas Públicas” foi o mote da 6.ª edição do congresso “Literacia, Media e Cidadania”, uma iniciativa do GILM (Grupo Informal sobre Literacia Mediática), que a ESCS, na qualidade de membro da estrutura, acolheu nos dias 21 e 22 de abril.
A iniciativa, que contou com o Alto Patrocínio do Presidente da República, visou dar a conhecer o estado da arte da atividade científica no campo da Literacia Mediática, proporcionando momentos de reflexão e de debate em torno daquela temática.
Durante dois dias, o programa do simpósio propôs-se a desafiar todos aqueles que se preocupam com o presente e o futuro da Literacia, dos Media e da Cidadania a discutir sobre os desafios tecnológicos, educacionais e políticos resultantes da inovação digital e complexidade comunicacional.
A Comissão Científica do congresso foi presidida pela Prof.ª Doutora Fernanda Bonacho, coordenadora do Mestrado em Jornalismo, que, em toda a linha, deu a cara pela organização do certame, tarefa que, nas palavras de Sérgio Gomes da Silva, Diretor de Serviços de Relações Internacionais e Comunicação na Secretaria-Geral da Presidência do Conselho de Ministros, foi cumprida com “elevadíssima distinção”.

O GILM, criado em 2009, pretende contribuir para a definição de políticas públicas na área da Educação para os Media e da Literacia Mediática, promovendo, para tal, ações abertas à sociedade, como é o caso deste congresso e da iniciativa “7 Dias com os Media.

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A 6.ª edição do congresso “Literacia, Media e Cidadania”, organizado pelo GILM, decorreu na ESCS, nos dias 21 e 22 de abril.


Do congresso, que trouxe à ESCS mais de 500 participantes, destaca-se o anúncio, em primeira mão, por parte dos Ministros da Cultura e da Educação, da criação, prometida para breve, de um Plano Nacional de Literacia Mediática, o qual, segundo Pedro Adão e Silva, governante responsável pela pasta da Cultura, deve, por um lado “prosseguir e expandir” o trabalho já em curso, levado a cabo por vários agentes, e, por outro, “ajudar a [delinear] boas-práticas e linhas orientadoras”, com vista à “definição de políticas públicas”.
A homenagem póstuma ao jornalista e professor Mário Mesquita, que faleceu em meados de 2022, marcou, ainda, o primeiro dia da convenção, figurando, porventura, o momento mais simbólico do evento.
Do programa do VI congresso “Literacia, Media e Cidadania”, salienta-se, ainda: as comunicações das peritas internacionais e as intervenções dos oradores especialistas que integraram os painéis das quatro sessões plenárias, que contribuíram para uma reflexão sobre os novos paradigmas da Literacia Mediática; os workshops, que promoveram momentos de partilha entre mais de uma centena de congressistas e especialistas; e as dez sessões paralelas de comunicações livres, em que mais de 100 professores e investigadores apresentaram os seus projetos, o que denota o interesse pela atividade científica no campo de estudos da relação dos cidadãos com e através dos media.

O repto: combater a desinformação

No discurso inaugural do congresso “Literacia, Media e Cidadania”, Fernanda Bonacho salientou a importância da iniciativa do GILM no “combate à desinformação e às desinfomedias”. Por sua vez, e dando voz aos profissionais da educação, Joaquim Melro, Diretor do Centro de Formação de Escolas António Sérgio, caracterizou a ocasião como “uma oportunidade formativa para os professores encararem os desafios da transição digital”. Colocando a tónica nas “preocupações com as desinformações”, Adão e Silva sublinhou que a tecnologia potenciou o efeito viral da mentira. Como consequência desse cenário, o Ministro da Cultura defendeu que, atualmente, assistimos a um “declínio das instituições de intermediação”, o que deteriora a “credibilidade” das mesmas. “[Na Internet], essa preocupação com a intermediação não existe”, daí que “estes fenómenos ajudam a explicar a polarização política que se vive hoje em dia”, esclareceu. Também presente na sessão solene, Augusto Santos Silva deixou explícito que, quando se fala em Literacia Mediática, “a capacidade crítica é uma condição sine qua non”. O Presidente da Assembleia da República defendeu que o Jornalismo detém “uma aliança fundamental com a Literacia Mediática”. Mas a “questão existencial”, assim a caracterizou, passa por diferenciar “os media que usam o Jornalismo como recurso daqueles que não o fazem”, sendo que estes últimos “não merecem a confiança” dos cidadãos e “não podem ter o crédito” dos primeiros. Por fim, e numa alusão à desinformação, Santos Silva afirmou que, no que à regulação do poder mediático diz respeito, temos “o direito a que o produto mediático que consumimos não nos chegue adulterado”.

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O Presidente da Assembleia da República e os Ministros da Cultura e da Educação marcaram presença no congresso.


“O sempre Prof. Mário Mesquita”

O tributo ao falecido Mário Mesquita, conduzido pela Prof.ª Maria José Mata, coordenadora da secção de Media e Jornalismo, e, também ela, antiga aluna do homenageado, pretendeu consagrar o cunho do “sempre professor, nesta casa [a ESCS] e nas nossas vidas”, como que num gesto de retribuição pelo que “deu à Academia, ao Jornalismo e à Democracia”.
A homenagem consistiu, num primeiro momento, na exibição de um vídeo – intitulado com uma citação do saudoso professor: “Fui apenas seguindo o longo percurso da vida” –, retrospetivo da sua vida e obra.
De seguida, e sabendo do gosto que Mário Mesquita nutria por cadernos, um conjunto de pessoas de várias gerações que com ele privaram presentearam a sua filha, Ana Mesquita, com um caderno de testemunhos e memórias. A ideia partiu de Maria Constança Castanheira, mestre em Jornalismo, que, em dezembro de 2022, defendeu uma dissertação intitulada “Mário Mesquita: a importância da palavra. Jornalismo e censura no final da Ditadura”. O trabalho académico quis promover uma reflexão sobre a censura à imprensa nos anos finais da ditadura portuguesa, através do estudo de artigos escritos por Mário Mesquita para o jornal República, no período de 1971 a 74.

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O congresso contou com um momento de homenagem ao saudoso Prof. Mário Mesquita (1950-2022).


As ideias que ficam

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Investido da incumbência de encerrar os trabalhos, Sérgio Gomes da Silva enunciou seis ideias-chave que sintetizam as “linhas de força” do congresso: 1) o anúncio do Plano Nacional de Literacia Mediática, “algo há muito esperado”; 2) articulação das ações dos vários agentes, com o intuito de inscrever o assunto da Educação para os Media na definição das políticas públicas; 3) transliteracia, dada a necessidade de as várias literacias se articularem entre si; 4) evolução dos media, que coloca novos desafios e exige novas respostas; 5) dialética, que promove o diálogo entre o Jornalismo e a Literacia Mediática; e 6) responsabilidade, mobilizando todas as instâncias com vista à coregulação. “A Literacia Mediática é uma condição para a Cidadania”, concluiu assim a intervenção, em jeito de sumário.

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Membros da Comissão Executiva do GILM envolvidos no VI congresso “Literacia, Media e Cidadania”.

Fotografias: Serviço de Comunicação (Gabcom)