Publicado: 19.09.2023
Este Perfil (texto e fotografias) foi realizado pelos estudantes Cristina Gordon e David Santos, no ano letivo 2022/2023, no âmbito da unidade curricular de Laboratório de Jornalismo II, do 1.º ano do curso de Licenciatura em Jornalismo.
Daniel Gordon deu os primeiros passos na ESCS e, atualmente, é a 966 km de casa que vive o sonho de ser realizador e editor na produtora TRIX.
“Está tudo pronto? Ok… Luzes, câmara, ação!”. É aqui que tudo começa e que tudo começou. Daniel Gordon, licenciado em Audiovisual e Multimédia, trabalha, desde 2020, como realizador e editor para a produtora TRIX. Concluído o Ensino Secundário em Artes Visuais, olhou para a ESCS como uma oportunidade de deixar a “pequena ilha” e explorar um tipo de arte que “se calhar, ao início, não dava tanto valor”: a fotografia e o vídeo.
Lisboa foi um amor à primeira vista. Com apenas 17 anos, o jovem viu-se obrigado a sair da Madeira, para continuar os estudos. O interesse pela área remonta ao final do Ensino Secundário e à relação que mantém com o seu padrinho, um videógrafo de eventos. “Acho que foi esse primeiro contacto que me despertou alguma curiosidade pelo mundo Audiovisual”, constata.
Durante três anos, foi mais um dos muitos estudantes deslocados que chegou à ESCS com vontade de ganhar mundo: “Era um momento que desejava há já muito tempo. Queria ter um bocadinho de liberdade e independência. Olhando para trás, sinto que acabei por me integrar bastante bem. Estava a morar numa cidade onde nunca tinha vivido e, na ESCS, sempre me senti bem e em casa.”
A curiosidade e a ambição andam de mãos dadas desde o início do seu percurso académico e profissional. Daniel queria estudar uma área que lhe proporcionasse prazer, mas, acima de tudo, que permitisse aliar a arte e o seu trabalho “a um objetivo mais comercial”. O entusiasmo pelo cinema e, em parte, a desvalorização das artes em Portugal influenciaram a escolha do curso. “Acabei por tirar Audiovisual e Multimédia, porque achei que seria das formas mais fáceis de poder exercer uma profissão que me permitisse continuar a fazer arte – claro que de uma forma mais comercial e menos tradicional –, mas com tanto valor como outra qualquer”, explica.
Uma Escola feita de pessoas
O atual realizador chegou à ESCS em 2015. Apesar do estigma associado ao Ensino Superior Politécnico e dos diversos incentivos aos estudos artísticos mais clássicos, Daniel Gordon arriscou e nunca se arrependeu. “Uma componente prática mais forte”, que distingue a ESCS das outras instituições, fez com que o escsiano conseguisse desenvolver não só as capacidades em fotografia e vídeo, como também em muitas outras áreas do seu interesse, como no 3D e no design. “Acima de tudo, permitiu-me afunilar o meu leque alargado de gostos. É uma Escola que nos dá a oportunidade de conhecer e explorar todas as diferentes áreas da Comunicação, quer seja nas aulas práticas, quer através dos diferentes núcleos. Deixam-nos pôr as mãos na massa e experimentar outros domínios, independentemente do nosso curso”, garante.
Ao longo dos três anos de licenciatura em Audiovisual e Multimédia, o antigo estudante recorda-se de participar em alguns passeios fotográficos e na cobertura de eventos, no âmbito do núcleo de fotografia número f e do programa de televisão E2. Daniel Gordon não deixa, ainda, de referir tudo aquilo que aprendeu com as pessoas do próprio curso. Acima de tudo, sublinha a importância de “saber falhar” e, por contraste, realça o valor de uma “boa ideia”, aspetos que, segundo o realizador, “são bastante trabalhados dentro e fora da sala de aula”.
É com nostalgia que Daniel lembra os tempos que passou na ESCS e é com saudade que fala das pessoas com quem ali se cruzou. Desde os professores à própria comunidade estudantil, o escsiano assegura que os amigos que fez e as relações que criou foram tão importantes quanto o curso. “O que levo comigo são as pessoas, porque a nossa área, independentemente do ramo de Comunicação, é feita de pessoas”, considera.
Peso da licenciatura vs. portefólio
Num século dominado pela Internet e pelas redes sociais, existem novas formas de adquirir conhecimento que se opõem ao método de ensino tradicional. “Hoje em dia, o YouTube ensina muita coisa, nomeadamente questões técnicas. No entanto, se queremos ter um ponto de partida, a licenciatura é uma forma mais estruturada de adquirir um determinado set de skills. A Escola é um espaço que nos direciona e orienta no processo de aprendizagem”, sublinha.
Daniel refere-se, ainda, à licenciatura na ESCS como uma “ótima base”. Contudo, no mundo do cinema e da publicidade, não oculta o valor da experiência, dos contactos e de um bom portefólio. “O que nos vai conseguir obter projetos é, de facto, as relações que criamos, e eu criei-as na ESCS. Esta área é feita de pessoas e ninguém faz filmes ou portefólios sozinho”, reconhece.
E depois da ESCS?
“É sempre bom sabermos muitas coisas e sermos um Jack of all trades, mas eu ambicionava ser The master of one”, reflete. De facto, foi este mindset que impulsionou a procura por uma pós-graduação mais específica, desta vez, na Escola de Tecnologias de Inovação e Criação (ETIC), onde ingressou no ano de 2018. “Mesmo depois da ESCS, senti que tinha algumas coisas por aprender”, recorda. A ETIC serviu para aprimorar as capacidades de edição, pós-produção e câmara.
Mais tarde, em 2020, no meio da pandemia, Daniel Gordon teve “a sorte” de entrar numa produtora de publicidade, a TRIX. Hoje, divide o dia a dia por múltiplas tarefas: “Se não estou a preparar projetos e treatments, estou a trabalhar em edição. Os meus dias mais felizes – e stressantes – são aqueles em que tenho a oportunidade de realizar os filmes que vamos idealizando na empresa”.
Por outro lado, o atual realizador não deixa de referir os “ossos do ofício". “Nós recebemos um briefing por parte de uma agência de publicidade e há várias produtoras a concorrer. Só uma é selecionada. Os realizadores criam o tal treatment que deve transmitir da forma mais clara possível a sua visão sobre a campanha, a nível estético, acting, casting, locations. A verdade é que é um trabalho bastante duro a nível de pesquisa e preparação, que, por vezes, não dá os seus frutos. Mas ganhar um projeto é a melhor sensação do mundo”, desabafa.
O antigo estudante não esconde o carinho pela agência TRIX, um lugar onde foi bem recebido: “Tem sido a minha nova casa e, sem dúvida alguma, um lugar onde aprendi e continuo a aprender”.
Videoclipes de música como freelancer
Desde os anos de estudante na ESCS que Daniel elabora projetos como freelancer. Apesar de trabalhar no ramo da publicidade, também continua a apostar na vertente mais artística. No fundo, a ambição, o desejo de se impor e a paixão pelo cinema persistem até aos dias de hoje: “Eu diria que a minha vida na TRIX é uma long-run. É algo que não tem preço. Por outro lado, poder fazer os meus próprios projetos e videoclipes é uma das poucas oportunidades para me aproximar do cinema, com toda a liberdade para criar.”
Recentemente, realizou um videoclipe para a música “Neblina”, que contou com a produção de Eduardo Filipe e com a fotografia de Edgar Esteves, antigos estudantes da ESCS e amigos de longa data. “Adoro imenso a música e a verdade é que, desde muito cedo na minha jornada, comecei a fazer videoclipes e não tenho parado desde então. Claro que o processo continua a funcionar. Ainda mais valor ganha quando a nossa amizade se funde com o nosso trabalho”, refere. Se por um lado fala sobre a importância das visualizações, já que “ninguém faz arte só para si e ninguém realiza um filme para ver sozinho”, por outro lado, sublinha que o dinheiro não é a prioridade. “Os projetos são feitos com muito esforço, a pedido de muitos favores, com pouco tempo livre e, muitas vezes, com o nosso próprio dinheiro. Porém, faço-os pela arte”, afirma.
A ambição de marcar o futuro da publicidade
Apesar de estar no mercado de trabalho há pouco mais de três anos, Daniel não esconde o cenário “ingrato, difícil e duro” que, por vezes, tem de enfrentar. Dificuldades à parte, o jovem não deixa de mencionar a importância da determinação e persistência no ramo. “Fiz a escolha certa e orgulho-me de nunca ter desistido. Estou muito feliz por ter chegado aqui e pelo percurso que fiz até agora”, confessa.
Ciente de que se encontra no caminho certo, Daniel mostra-se decidido em não baixar os braços para conseguir singrar: “Lá está, é aquele cliché… Gostaria de me sentir 100% realizado a nível profissional. Quero conseguir criar um nome dentro da indústria da publicidade. Pretendo continuar a produzir videoclipes para os artistas com quem colaboro e, se possível, crescer sempre com eles.”
Por fim, desafiamos Daniel Gordon a responder a uma espécie de Questionário de Proust:
Um objeto essencial para o teu dia a dia.
O meu computador.
Uma cidade ou um país.
Holanda.
Uma música ou uma banda.
Easy Life (banda); Nightmares (música).
Um filme ou um realizador.
Christopher Nolan.
Um livro ou um escritor.
José Saramago.
Uma série.
Breaking Bad.
Uma referência profissional.
Leandro Ferrão.
Uma comida ou uma bebida.
Coca-Cola e comida mexicana.
Fotografia ou vídeo.
Vídeo.
Digital ou analógico.
Analógico.
Lisboa ou Madeira.
Não sei. Neste momento, Lisboa.
Quando for grande, quero ser.
Quero ser feliz.
No vídeo abaixo, Daniel Gordon fala sobre as mais-valias de ter estudado na ESCS e como a formação académica contribuiu para o seu percurso:
Este Perfil (texto e fotografias) foi realizado pelos estudantes Cristina Gordon e David Santos, no ano letivo 2022/2023, no âmbito da unidade curricular de Laboratório de Jornalismo II, do 1.º ano do curso de Licenciatura em Jornalismo.
Fotografia do separador "Videoclipes de música como freelancer" gentilmente cedida por Daniel Gordon